FEMDOM


por: Lena Lopez 

DOMINAÇÃO FEMININA NA HISTÓRIA

No período da pré-história, a sociedade ou os embriões desta, adotavam um sistema matriarcal de organização, as tribos dos nossos antepassados tinham como líder uma mulher, os homens eram naturalmente subordinados à ela, o sexo feminino era dominante naquele tempo. A supremacia feminina residia na adoração e idolatria da capacidade de fertilidade e de assegurar a continuidade da espécie. Diferente dos tempos atuais, as mulheres exibiam com orgulho o sangue menstrual, simbolizando a sua fertilidade e que delas eles dependiam para poderem procriar. De outro modo, a exibição durante o ciclo menstrual, mostrava ao homem pré-histórico, que ele deveria tolerar com submissão as flutuações do humor feminino. Essas características da sociedade nascente, dava às mulheres o respeito necessário, muitas vezes às elevando ao status de deusas. 
Nos tempos mitológicos da Grecia Antiga, associado a diversas lendas de diversos povos antigos, surgiu o mito das Amazonas, que teriam vivido na região do Ponto, atual Turquia, próximo ao mar Negro. Formavam um reino independente, sob o governo de uma rainha e a primeira teria se chamado Hipólita (indomada). Heródoto as chamou de Androktones ou matadoras de homens, afirmando que no idioma "cita" (lingua falada pelos povos antigos do Leste Europeu à Mongólia) elas eram chamadas de Oiorpata, com o mesmo significado. Nenhum homem podia ter relações sexuais, ou viver em comunidade com elas, porém uma vez por ano, por motivos de preservação da raça, as amazonas visitavam os gargáreos, uma tribo vizinha, mantinham relações sexuais com homens por elas escolhidos e retornavam ao Reino Amazona. As crianças do sexo masculino que nasciam destas relações eram mortas e enviadas de volta para os seus pais ou expostas à natureza, as crianças do sexo feminino eram mantidas e criadas por suas mães, treinadas em práticas agrícolas, na caça e nas artes da guerra. Algumas versões do mito contam que uma vez por ano, as Amazonas raptavam homens de tribos vizinhas, mantinham relações sexuais e logo depois os imolavam às suas deusas.
Outro relato mitológico conta a história de "Ayesha", A Feiticeira Branca", que governava o povo Amahagger, no interior da África, o reino perdido de Kôr. Governados com tirania pela terrível rainha branca, a qual eles se referiam como Ela, os Amahagger sacrificavam os intrusos, em um ritual de canibalismo, desde que não estivessem sobre a proteção de Ela. Ayesha, cuja beleza era capaz de hipnotizar a todos os homens, vivia a dois mil anos em Kôr, aguardando a reencarnação de seu antigo amor, Kallikrates, a quem ela havia assassinado em um acesso de ciúmes. Ayesha acredita que um dos intrusos capturados era a reencarnação de Kallikrates e, portanto, deseja que ele se torne imortal e viva com ela para toda eternidade. Entrentanto, inadvertidamente, querendo dotar seu amado de vida eterna, a rainha acaba por desfazer o seu próprio encanto sobre si, e com isso termina morrendo horrivelmente. Antes de desaparecer, porém, Ayesha declara: - Eu não morri. Eu retornarei!
Durante a Idade Média, a liberdade religiosa, intelectual e principalmente sexual, foram vítimas da repressão executada pela igreja, tornando criminosos ou pecaminosos os prazeres físicos da carne e do pensamento. Aparece então, a figura do "sucubus" a versão primitiva da femme fatale, que mantém relações sexuais com homens enquanto dormiam, capturando suas almas para o Diabo. Várias mulheres foram acusadas de deter este poder, ou seja, tranformar-se em succubus durante a noite e condenadas à fogueira pela Inquisição, ao mesmo tempo, a igreja teve um extremo cuidado que não caçar sucubus e bruxas entre as senhoras da nobreza e realeza. No ano 1030 a rainha Constanza convenceu a igreja que seus pecados de luxúria e promiscuidade poderiam ser pagos se fosse pessoalmente castigada com rigor. sobre ela, O Chatre escreveu: "- Aquela luxuriante jovem sádica de tão linda, não satisfeita em ter sido mostrada como juíza implacável, também quis executar pessoalmente o papel do executor, obrigou os padres a assegurar para o resto de seu tribunal, que os mais excessivos castigos que ela se aplicou, seriam compensados em sua maioria na frente de Deus, seus próprios pecados e seus crimes acalmam sua luxúria insaciável. Com suas próprias mãos explodiu os olhos de várias jovens italianas convertidas nas doutrinas de Manés. Com pinças em chamas torturou seus tóraxes, estômagos e sexos até mutilando-os. Tomando o cuidado de não matar suas vítimas por causa de tanta tortura, ordenava que fossem levados dali, aqueles corpos em chamas. Enquanto ela olhava as contorções e gritos das suas vítimas, ela entrou em transe erótico que a levou ao êxtase".
Relatos e exemplos de mulheres dominadoras na história são inúmeros, seja pela tirania, pela personalidade, pela força que demonstram, pela astúcia ou pelo poder de sedução que elas detinham, como Cleópatra, as Mulheres Tchecas, Salomé, Dalila, Judite, Esther, Phillys, Catarina de Médicis, a nazista Ilse Koch, Mademoiselle Lambercier, Catarina a Grande, Crhistinne Keller do caso Profumo em 1956, e outras tantas.

DOMINAÇÃO FEMININA NO BDSM

O FemDom e o LezDom é uma derivação das tendencias do BDSM e que se reporta à dominação exercida por mulheres.

FEMDOM

O FemDom (Female Domination ou Fêmea Dominante), de forma geral é a dominação exercida por uma mulher, sobre outra pessoa, seja do sexo feminio ou do sexo masculino.
Infelizmente as fontes sobre este assunto são excassas, na internet encontramos muitos materias, mas a grande maioria é sensacionalista e voltado exclusivamente à pornografia crua. Os sites e blogs voltados ao assunto ou propriedade de mulheres dominadoras, geralmente se propõem à demonstrar as suas práticas, mas dificilmente falam e levam a um esclarecimento sobre o que é realmente a Dominação Feminina. Por isso, resolvi trazer um depoimento de uma Dominadora, a Senhora Lúcifer, do blog Lilith Senhora Lúcifer:
"- Antes de ser Dominadora, eu sou uma mulher que gosta das mesmas coisas que as outras e o fato de ser Domme não me torna mal educada, mal humorada ou grossa, por que tenho prazer em ser o que sou, muitos confundem os dominadores com pessoas sem sentimentos, arrogantes, ignorantes e afins. Mas ser Dominadora, exige no mínimo um pouco de educação, inteligência, conhecimento sobre o assunto, malícia, sagacidade e por isso que nós Dominadores temos que ser responsáveis para conduzir a vida de nossos submissos, que nos entregou em um ato de amor e devoção.
Dentro dessa condição escolhi ser Domme? Não, nasci Dominadora e acho que todos nascem com uma posição e me descobri muito cedo como Domme, talvez seja por ser muito maliciosa ou uma pessoa fria e com grande controle emocional, acabei usando de uma forma saudável dentro do BDSM.
Meu prazer dentro do BDSM é ter o domínio físico, psicológico e emocional e cade um destes domínios age de uma forma diferente no meu prazer. Dentro deste contexto o Dominador é um submisso, que cede aos desejos de seus submissos pelo prazer "de ter" e "dar" o prazer, nas  três formas que os dominamos. O domínio físico é ter o prazer da entrega de seu corpo para ser dominado ao bel prazer de seus donos e o meu prazer é usar este corpo, para minha total satisfação, aonde dou e tenho o prazer sádico e sexual. Ter a dor deste submisso, que faz tudo por você, se entrega para que tenha prazer e que coloca os nossos desejos acima de seus, é um dos maiores prazeres que eu tenho. Sua entrega psicológica, aonde aceita tudo o que vem de você e ainda escolhe ser preso, mesmo sendo livre, por devoção, é uma forma de amor incondicional e prazerosa de dominar. 
O emocional na dominação é o amor transparente que temos dentro do BDSM, por ser um amor que aceita os seus defeitos, qualidades e ainda te serve. O relacionamento dentro do BDSM é puro e transparente, por ser uma forma aonde não existe reservas e o que temos é uma entrega, aonde a pessoa expõe suas franquezas, limites, defeitos sem se preocupar com as convenções e não conheço nada mais livre que a Dominação e Submissão, de duas pessoas que buscam o prazer sem limites físicos, psicológicos e emocionais e essa entrega é o que me dá prazer. 
Cuidar do submisso com a certeza de que a mesma mão que bate e tortura, é a mesma que protege e cuida. Admiro e respeito todos os submissos, que mesmo sendo livres, escolhoram estar preso e se submeterem aos seus donos, entregando-se, doando-se, para serem livres na escolha de sentir e amar. 
Está em nossas almas, corações e corpos, dominar e ser dominado por prazer."
Diante do depoimento da Senhora Lúcifer, fica claro e explícito o espírito que move a Dominação Feminina dentro do mundo do BDSM. Sem querer diminuir a dominação exercidas por homens, arrisco-me a dizer que, a Dominação Feminina, como em todas atividades diárias que envolve as nossas vidas, carrega um algo a mais, uma paixão, a qual somente as mulheres são capazes de possibilitar, devido as suas características e personalidade, incluindo a doçura e a face amorosa, quando não, maternais, nas relações entre dominadoras e submissos ou submissas.
No Universo BDSM, quase sempre são adotados títulos ou nomenclaturas que definem o perfil de uma pessoa, neste caso, de uma mulher dominadora, ou seja, podem indicar as suas preferências, levando em conta as complexidades que diferenciam os títulos, são os mais comuns:
- Deusa: É uma Dominadora que gosta de adoração sobre si como o objetivo de veneração, física, psicológica e até espiritual, por parte do dominado.
- Dominadora: sua preferência pode estar ligada diretamente as relações D/s (Dominação/submissão), a essência do relacionamento, associando o título aos jogos de controle, nos aspectos físicos e emocionais.
- Dominatrix: É aquela que para desenvolver a pratica da dominação, ela é tributada, cobrando taxas por sessões, com valores estipulados. O título não associa-se à prostituição, mas é frequentemente utilizada por mulheres profissionais do sexo.
- Domme: Dominadora que prefere as práticas sádicas. Geralmente as atividades de dominação são dotadas de práticas que causam dor e sofrimento físico e psicologico no dominado. Associa-se diretamente ao sadomasoquismo.
- Lady: Sofisticação é a sua palavra de ordem, as praticas são elaboradas com requinte e possui grande envolvimento pessoal com o submisso.
- Mistress/Mestra:  Estudiosa do BDSM e conhecedora dos fetiches, estando eles entre as suas preferência sou não, tanto na prática como teoricamente. Entre elas encontra-se as dominadoras dispostas a ensinar e passar conhecimentos.
- Rainha: Geralmente são dominadoras voltadas à podolatria, gosta da veneração sobre seus pés ou a seus pés.
É bom lembrar que os títulos são apenas nomes, adotados para ilustrar uma personalidade dominadora e diferenciá-la das personalidades submissas. A adoção deles não segue uma regras, apenas razões de preferência. Assim poderemos encontrar uma "Lady" extremamente despreocupada com a sofisticação e uma "Mistress", longe de ser uma expert, apenas uma iniciante.
Além dos títulos acima citados exitem muitos outros, como Senhora (a minha convidada para este artigo, por exemplo), Madame, Madam, Dona, Mademoiselle, Demoiselle, Miss, Dama, Dame, Maîtresse e outros.

LEZDOM

LezDom (sigla adotada do esloveno lezbijka dominacija, por isso o "z", mas não confirmado) ou em inglês Lesbian Domination e em português Dominação Lésbica ou Lésbica Dominante, é a dominação exercida por uma mulher sobre outra. 
Geralmente a exploração da indústria porno-erótica, a dominação lésbica  que encontramos por aí, na grande maioria, é voltada para a saciedade das fantasias masculinas, personificadas por atrizes e modelos que em nada tem a ver com o BDSM, além disso são produzidas e dirigidas por homens, ou seja, produções feitas por homens para serem assistidos por outros homens. Seguindo uma amostragem de estereótipos e estética, voltados ao fetichismo masculino. Desde a escolha dos elementos para criar o fetichismo, os corpos femininos torneados e os seios siliconados, o aspecto artístico, a fotografia, deixam a impressão que o público alvo é totalmente masculino. Ainda, o conteúdo vai de encontro muito mais à pornografia do que a qualquer outra coisa. O material disponível para apreciação visual é uma relação LezDom para homem ver e satisfazer as suas fantasias. Exceções existem, mas a industria pornografica LezDom está aí para ser consumida por ambos os lados
Lembre-mos que há no mercado, Dominadoras (se é que podemos assim denominá-las) que se valem do BDSM para fazer dele o seu meio de subsistência, isto é, dominam por dinheiro, ou se preferirem, sejamos claros, se prostituem. Não quero aqui condená-las, cada um sabe da sua vida e ganha o seu dinheiro como quiser, se existem é por que existe quem pague e também, proporcionar fantasias, não é crime, mas o é dedicar-lhes preconceito.
Hoje em dia, o advento da cultura BDSM, trouxe também a moda ser Sado-Masoquista, isto é, virou moda ser Dominador ou Submissa, algo que eu acredito ser como qualquer cultura sem base, que vem, dá o seu recado, cai no esquecimento e deixa que os elementos autênticos retomem os seus lugares. Querendo ou não, gostando ou não, este fenômeno trás vantagens e desvantagens. As desvantagens é a poluição do meio e a prática vulgar, a vantagem é a eliminação gradual do preconceito. Isso acontece notadamente com os ritmos musicais, que de uma hora para outra, deixam de ser algo detestável pela maioria e cai na boca do povo. O sertanejo por exemplo, deixou de ser um ritmo interiorizado, para ser uma mania nacional, até internacional e desde que foi assumido pelas primeiras duplas, que o tiraram da moda de viola, vinculando-o às guitarras, à cultura cowboy e country norte-americana, mesmo assim, vem sofrendo metamorfoses, hoje já é sertanejo universitário (que em nada lembra as origens, mas a disposição dos flashs, luzes e efeitos especiais) porém, a moda de viola do interior, continua sendo o sertanejo autêntico e as suas origens ninguém muda, quem quiser conhecer, elas estão lá, esquecidas no interior, de Goiás, São Paulo, Mato Grosso, mas vivas.
Longe dos flashs, lentes e câmeras, existe uma diferença enorme entre a Dominação Feminina para submissos e submissas. Apesar que o conhecimento de causa é um dos meus problemas, pois nunca tive efetivamente uma submissa sob meu pleno domínio e independente do grau de dominação ou submissão das partes, percebe-se uma certa leveza, romantismo e erotismo, acrescido de psicologismo, nas cenas LezDom, ou seja as Dommes e submissas estão mais ligadas afetivamente e sexualmente, mas suas relações são mais fortalecidas na dominação e submissão psicológida do que em qualquer outro envolvimento D/s, talvez pelos sentimentos femininos de ambas as partes envolvidos na cena. Diferente disso, são as cenas montadas pela indústria porno, que possuem o objetivo único de proporcionar tesão ao assistente.
Voltando ao assunto principal, fácil de explicar ou não, nota-se que o relacionamento BDSM entre Dominadoras e submissas, possui um alto grau de cumplicidade, uma entrega, que chega a impressionar pela devoção, erotismo e sexo, que vai além deste. A Dominação é subjetiva e nem tanto explícita, mas não deixa de ser erótica e sexy. Falando da questão, torna-se desgradável o termo humilhação, pois na grande maioria dos casos, é um ato sublime de entrega da submissa para a Dominadora, que pode-se entendendida por disciplina.
Durante toda a minha vida tive reservas ao BDSM e quanto mais a relação LezDom, talvez pela minha opção sexual, sou uma mulher bissexual e sempre achei que entre mulheres o carinho e o respeito devem servir como base da relação, mas por falta de oportunidades, não tinha ainda formado uma opinião a respeito. Acreditem ou não, a reserva que eu tinha, foi afastada depois que presenciei apenas uma cena de LezDom e que por duas vezes me envolvi, provando as sensações desse tipo de relação, uma vez como Domme e outra como sub. Sempre achei um absurdo a subjugação de mulheres, mesmo que sexualmente. As minhas três experiencias me provaram que no LezDom é bem diferente, ficando a relação longe de qualquer grosseirimo e agressividade. A aspereza é trocada pela sensualidade e o domínio e a subjugação se transforma em uma conquista psicológica de ambas as partes. Acredito eu, que das relações D/s, a relação LezDom é a de maior sensibilidade
Eu espero ter me expressado com clareza e colocado a minha opinião de forma objetiva pra me fazer entender, convém lembrar que sites para pesquisas sérias na Internet, sobre este tema são dificeis de encontrar e a maioria das Dominadorass são muito restritas e de difícil aproximação, felizmente tive oportunidade de conviver com uma delas quando residi na Espanha, uma Dominadora Lésbica, que concordou esclarecer-me algumas dúvidas e responder algumas questões. Também fui buscar subsídios em algumas revistas e livros.
Como complemento à relação LezDom, deixo o conto "A Lua", um exemplo maravilhoso de relacionamento LezDom, repleto de erotismo e sensualidade. Tenho certeza que os apreciadores de contos BDSM irão gostar.
A LUA  
À luz da lua cheia que ousada invadia a escuridão do quarto, Anna acariciava os cabelos de Maria, que repousava num sono profundo aninhada com a cabeça junto aos seus seios. E enquanto acariciava, observava as marcas no corpo de Maria. Num gesto quase que instintivo levou os dedos àquelas marcas sem tocar, tocando. E uma lágrima escorreu pela face lembrando as palavras dela:
- Eu preciso sentir dor. Dor, para amenizar a minha dor. Uma dor intensa de ter que acordar todos os dias, levantar e levar esta vida vazia… Quanto mais sofro, menos sinto.
Aquilo era meio absurdo para ela, que apesar de todos os pesares que a vida lhe causou, seguia firme e sempre adiante. Cheia de marcas, é verdade, não na carne, mas na alma. Talvez fosse melhor ser como Maria, e ter a dor cessada, mesmo que por instantes através da dor externa, do castigo, da dor impingida por outrem. Sadismo e masoquismo psicológico, que se completa, que faz da cena o divã do analista, do ato de impingir e submeter-se à dor, uma expiação.
O recado na caixa-postal do celular denunciava o desespero da amiga: “Preciso falar com você, me liga!”. Anna ligou, mas não teve resposta, o que deu nela uma grande angústia. Veio à sua mente o pior. Pegou as chaves do carro e em pouco tempo estava à porta da casa, apertando o interfone. Uma, duas, três vezes até obter resposta. Uma voz chorosa, mas que reconhecendo a voz da amiga abriu o portão. Anna foi recepcionada por Puck, o labrador de Maria, que parecia ansioso em conduzi-la o mais rápido possível para dentro de casa pela porta entreaberta.
Ao abrir, Anna viu a amiga nua esparramada no chão, chorando, entre fotos e mais fotos. Uma vida em imagens. Pequena na escola, na primeira comunhão, com o namoradinho da adolescência, de vestido de noiva, na lua-de-mel com o ex-marido… E quando viu a lamina da faca afiada brilhando no sofá, entendeu de imediato a intenção de Maria. Correu para perto dela e tirou aquele objeto de perto dela. Foi então que viu as coxas ensangüentadas, pequenos cortes que escorriam filetes de sangue, sangue que escorria e sujava as fotos.
- Você está louca Maria? Queria se matar? – disse gritando com a amiga, segurando-a pelos cabelos, forçando-a a olhar em seus olhos.
- Não! – ela gritou desesperada entre as lágrimas – Eu não quero morrer, mas preciso sentir dor. Eu preciso sentir dor. Dor, para amenizar a minha dor. Uma dor intensa de ter que acordar todos os dias, levantar e levar esta vida vazia… Quanto mais sofro, menos sinto.
E dizendo isso caiu num choro convulsivo, estremecendo todo o corpo. Ela estava em crise e precisava acordar. Foi então que num gesto rápido, enquanto com a mão esquerda a segurava pelos cabelos, com a mão direita deu dois tapas fortes em sua face. Tirando-a do surto, trazendo-a de volta ao mundo real. Ela olhou para a amiga assustada e levou a mão a própria face, quente pelo estalo da bofetada. Nada disse ficou quieta, com as lágrimas ainda escorrendo, mas agora sem soluços. Anna soltou seu cabelo, ajoelhou-se diante dela e beijou sua face, suas lágrimas, seus olhos, boca… Envolveu o corpo da amiga em um abraço terno. O beijo na boca não tinha volúpia, era cuidado. Por muito tempo ficaram ali, abraçadas, sem dizer nada. Só aconchegadas nos braços uma da outra. E quando Maria ficou mais calma, a outra se levantou e foi até o banheiro pegar anti-séptico para desinfetar e tratar os cortes da auto-flagelação da amiga.
Depois de tratada, Maria contou em detalhes seu sofrimento, mais uma vez falou da vida, das sucessivas desilusões, da culpa pelo casamento não ter dado certo, dos pais negligentes e novamente falou da dor. Uma dor interna que só passa com a dor externa. E começou a detalhar o sofrimento de ser como era. Foi quando Anna calou a amiga com um dedo em sua boca. Olhou-a profundamente em seus olhos e disse:
- Já experimentou aliar a dor ao prazer? – e viu uma grande interrogação se formar na expressão da amiga, mas continuou aproximando o corpo da outra, forçando uma intimidade invasiva. Intimidade que se consolidava com as mãos acariciando e tocando o corpo da amiga.
- Não é possível ter prazer na dor Anna. Aliás, eu nem acredito em prazer, nunca tive um orgasmo senão os que eu mesma estimulei através da masturbação – e baixou o olhar envergonhado.
Anna então deitou o corpo da outra na cama, que sem resistência acatava todos os comandos, mudamente. E enquanto beijava-lhe a boca, com as pontas dos dedos buscava os mamilos rijos de Maria, que entregava seu corpo sem reservas. E quanto mais sentia a entrega, mais fazia pressão com os dedos, as pontas das unhas, até sentir um gemido abafado pelo beijo. Neste instante, soltou o mamilo e fez o mesmo com o outro que ficara livre até obter a mesma reação.
- Doeu? – Anna perguntou com um olhar enigmático e respiração ofegante.
- S.. sim, mas… Eu gostei! – disse tímida – Acho que melei entre as pernas.
E dizendo isso recebeu um tapa estalado na face, dessa vez não tão forte quanto o da sala, mas que a colocou em alerta, sem saber o que tinha feito de errado. A amiga percebeu o olhar interrogativo e completou:
- Quem te mandou gozar, putinha?! Ainda não…
Provocando uma sensação estranha em Maria, um tesão que parecia invadi-la de dentro para fora, queimando seu corpo até afoguear a face e enrubescê-la. Ser chamada de puta pela amiga provocou uma sensação contraditória dentro dela, que aliada a dor que quase a levou ao gozo a deixava confusa, mas excitada.
Anna então levantou da cama. E lentamente começou a despir-se. Já tinha visto a amiga nua muitas vezes, mas nunca foi tão erótico vê-la despir peça a peça. Ela não tirava o olhar dela enquanto desnudava-se, olhava diretamente em seus olhos, seios, umbigo, púbis. Quando viu o olhar dela fixo em sua xota, mais uma vez sentiu melar e instintivamente apertou a mão entre as pernas. Foi quando viu que a amiga, já completamente nua, puxou-a pelas pernas na cama, trazendo-a para bem perto de si e tirou a mão de onde estava. E bem baixinho disse em seu ouvido.
- Será que terei de amarrá-la pra você aprender que eu disse ainda não?!
As palavras dela, sempre tão firmes, mas ao mesmo tempo delicadas, enchiam-na de tesão. Sem perceber fechou os olhos e deu um suspiro. Sentiu que a outra se levantava e começava a procurar alguma coisa no guarda roupa.
- O que você quer Anna? – tentando ajudar.
- Cala a boca, e feche os olhos, eu me viro… – foi a resposta seca da amiga, mas como já havia entrado no jogo de comando dela, acatou sem dizer mais nada.
Anna recostou-se por trás dela, roçando os seios em suas costas, roçando seus longos pelos nela. Sentia o corpo estremecer. De repente, ainda com os olhos fechados, sentiu que um lenço era amarrado sobre seus olhos, deixando-a num breu total. Aquilo a assustava ao mesmo tempo em que ficava cada vez mais excitada, mas confiava tanto na amiga… Que se deixava levar. Aos poucos teve os punhos e tornozelos atados por algo que parecias lenços, ou echarpes de seda, sendo amarrada em X na cama. Percebia a amiga sair e voltar ao quarto. Aquilo dava uma sensação estranha, um desconforto absurdo que começava a incomodá-la. Era horrível não saber o que estava acontecendo e então perguntou:
- O que está fazendo Anna? – e recebeu outro estalo leve na face, que mais uma vez a excitou, entendeu perfeitamente quem estava no comando e não a questionaria mais. Ficou angustiada, mas percebendo cada som, cada aroma.
Sentiu então algo gelado em seus mamilos, devia ser gelo, sentiu o corpo arrepiar. Anna não dizia nada. Havia colocado um CD de música celta para tocar. O som das gaitas de fole ia enchendo-a cada vez mais de tesão. Sentindo o gelo passear pelos seus mamilos hora um, hora outro. A ponto de ficarem dormentes, sentiu que algo foi colocado neles, mas não sabia o que. Continuou apenas percebendo, sentindo o que Anna fazia em seu corpo. Passou gelo em seu clitóris, arrepiando-a uma vez mais.
À medida que os mamilos iam voltando à temperatura ambiente e um desconforto maior ia provocando uma dorzinha constante neles, já não conseguia bem entender de onde ou o que lhe provocava mais desconforto, a dor nos mamilos ou o gelo no clitóris. Sentiu então os dedos dela abrindo-lhe os grandes lábios, até suavemente tocá-la com os próprios lábios. Sentiu a região aquecer aos poucos pelo calor daquela boca, o prazer ia crescendo enquanto era mamada por aquela boca. O corpo contorcia de prazer e quando pensava que estava prestes a gozar a amiga uma vez mais vinha com o gelo que apagava seu fogo. Aquela sensação de quase lá a enlouquecia, ao mesmo tempo em que seus mamilos doíam e incomodavam até quase não agüentar. No entanto, não tinha coragem de pedir que fosse retirado, o que quer que fosse de seus mamilos. Agüentava, submetia-se àquela dor.
E quando Maria pensava que já estava terminando, ela saía, mas voltava com outra coisa. Sentiu cheiro de algo queimando, parecia o cheiro da vela aromatizada que enfeitava a sala, presente da própria Anna. Imaginar o que Anna podia fazer com a vela deu um desespero, por outro lado, era mais forte que ela a excitação e o desejo de saber qual seria o próximo passo. E então, sem aviso, recebeu algo quente em sua barriga, escorrendo e endurecendo. Deu um grito. Não acreditava que ela havia feito isso, derramado cera quente em seu corpo. Ouviu a amiga falar bem pertinho de seu ouvido:
- Shhhhhhh… Não se preocupe, eu sei o que estou fazendo – e curiosamente sentia que ela realmente sabia. Afinal, havia dor, mas havia uma sensação de libertação naquela dor.
Anna tirou o que prendia seus mamilos e a dor ao invés de aliviar ficou mais aguda. Gritou novamente. E sentiu os lábios dela calando os seus num beijo intenso, sentia a respiração dela ofegante, como a sua, como se a sua dor a excitasse. E mesmo contorcendo-se de dor diante do simples toque dela em seu mamilo, excitava-se cada vez mais com tudo o que acontecia. Sentiu os lábios dela descendo por seu corpo. E uma simples lambida no mamilo era o suficiente para provocar mais dor e mais prazer. E quando a boca finalmente chegou entre as suas pernas, sentiu que estava prestes a gozar. E quando estava quase lá, mais uma vez a amiga parou e disse:
-Ainda não minha putinha, sei que você está no cio, mas teu prazer é meu…
E dizendo isso, mais uma vez afastou-se. Voltando mais uma vez lambendo-a, mas desta vez penetrando algo meio gelado, que a preenchia completamente, entrando bem devagar. Ela massageava seu clitórris com a língua ao mesmo tempo que penetrava aquela coisa grande e larga que aos poucos ia tomando a temperatura do seu corpo e provocando uma sensação de prazer. E enquanto com a língua e boca ela mamava o clitóris, com a mão direita tocava um mamilo no mesmo ritmo que enfiava e tirava aquela coisa de dentro dela. Aquilo tudo a enlouquecia, sentia dor, sentia-se invadida, flagelada por aquela carícia em seu mamilo sensibilizado e prazer, muito prazer com a mamada dela em seu clitóris, começou então a se contorcer, chorar e gritar, mas sem ter coragem de pedir para parar e então quando pensou que fosse desmaiar de dor e prazer explodiu num gozo absurdo e inexplicável. Sentiu-a enfiar fundo a coisa dentro dela e a boca mais uma vez beijando a sua. O coração dela batia acelerado, e o beijo era sôfrego e urgente.
Maria não soube quanto tempo ficou ali, amarrada e vendada nas mãos de Anna, mas suas primeiras palavras após ser liberta foram:
- Muito obrigada amiga, nunca pensei que pudesse sentir prazer na dor…
Olhou em volta e viu os objetos, testemunhas daquela noite insólita. Os lenços que ainda podia sentir ao redor de seus punhos e tornozelos. As velas acesas que ainda perfumavam o ambiente. O baldinho de gelo que agora era só de água. Clipes de papel largados no canto da cama e um pepino, grande e grosso, todo lambuzado dela. Quem diria que o seu primeiro orgasmo com penetração teria sido proporcionado por uma mulher, sua amiga e de maneira tão incomum.
Anna se recostou na cama enquanto fumava um cigarro, e nisso Maria se aninhou feito gata enroscando em seu abraço. Lá fora Puck latia, certamente com um gato desavisado que ousava passear pelos muros à luz da lua. Uma lua linda, enorme, cheia, que invadia o ambiente em louvor àquele momento. Àquelas duas mulheres abraçadas.
- Dorme Maria, você precisa descansar… – disse aconchegando-a ainda mais em seu abraço.
- Mas você nem gozou Anna…
- Quem disse que não? – e ficou acariciando os cabelos da outra, olhando a lua, ao som das gaitas escocesas e da mágica música celta.
Sugiro o Blog da Beattrice - Textos Eróticos para leitura, onde pode-se encontrar outros contos sobre o assunto.
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* Agradecimentos à Señora Paola Martinez (Málaga-Espanha) e a Senhona Lúcifer, pela atenção e disponibilidade, fornecendo-me subsídios e esclarecimentos as minhas dúvidas e questionamentos.

Fontes:
A Lua (conto)- http://www.blogseroticos.com.br/beattrice/
Texto - www.pensamentoindecente.com