SHIBARI


por: Lena Lopez

Shibari, traduzido literalmente “amarrar”, também conhecido por Kinbaku ou Sokuboku,  é a arte japonesa da amarração com cordas. Pode ser simétrica (proporcional e igual) ou assimétrica (sem comprometimento  com igualdade e proporcionalidade), possui apelo na restrição dos movimentos e estético pela beleza dos nós, cores e forma de amarração.

ORIGEM

Há muitos mitos e lendas em torno da origem do Shibari, muitas informações que encontramos a respeito são conflitantes, alguns sustentam a sua origem no "hojo-jutsu", na Era Edo (1600DC).

O hojo-jutsu é parte integrante ou alguns dos golpes utilizados pelos Samurais e se fez presente em diversas artes marciais na antiguidade japonesa. Geralmente eram técnicas de imobilizações sem nós, levadas a cabo com o Sageo, a corda que está presa ao Saya de um Katana. 
A corda era  largamente utilizada, para segurar a sela (Kura Gatame), arrear o cavalo (Shiba Tsunagi) e para amarrar prisioneiros (Tori Nawa).

O hojo-jutso ou habilidade de imobilizar com cordas, é uma prática feudal japonesa, utilizada para prender com eficácia os prisioneiros, sem matá-los, para que colaborassem, com informações ou até para aguardar o seu julgamento. Foi amplamente utilizada até pelos soldados japoneses, supervisionados pelos samurais.
Era uma técnica interessante, na qual a forma de amarração demonstrava o crime cometido e a posição social do criminoso, as cores das coradas utilizadas também denunciavam as atitudes dos delinquentes.
Ser imobilizado ou amarrado naquela época era uma grande desonra e humilhação, muitos das se suicidavam antes que isso acontecesse, se tivessem oportunidade.

Provavelmente o Shibari herdou técnicas dessa arte, mas com um propósito totalmente diferente, seja ou não, de início, devido à cultura da antiguidade japonesa, ter ele um caráter não-consensual, consistindo numa prática de agressão contra a mulher, não deixou de ser uma arte erótica e ter apelo sexual.

As primeiras citações que se tem do shibari contam do século XVII, no Shogunato Tokugawa (ditadura militar feudal estabelecida no Japão em 1603 por Tokugawa Ieyasu e governada pelos shoguns da família Tokugawa até 1868) que, em decorrência da religião dominante e da situação social da época, a maioria das escolas importantes entraram em declínio. Foi uma época dificil na história japonesa, quando para se manter o controle da sociedade não se fazia uso de escrúpulos e os governantes apenas desejavam mais poder, mais dinheiro e mais mulheres.
Homens da classe social privilegiada, passaram a sequestrar as mulheres que desejavam e as amarravam nuas em posições humilhantes, para se servirem delas ou para que servissem, em tais condições, como modelos para pinturas,  isso os excitavam e era contemplado por muitos outros homens. A compilação dessas gravuras pornográficas, formou uma pinacoteca e foi batizada de “Komon Sarachi Shibari“, extremamente apreciada na época.
Destarte, também há muitas histórias sustentando que os samurais invadiam regiões rurais, residências desconhecidas ou de inimigos e amarravam mulheres em posições eróticas para sua satisfação sexual, mas isso não é detentor de provas absolutas, mas mitos e lendas, passadas de geração em geração.
As amarrações utilizadas pelos samurais, conforme a lenda, eram semelhantes àquelas utilizadas em prisioneiros criminosos, trazidas pelo Hojo-jutsu.
Pode-se afirmar que o shibari não é uma ramificação ou descendente do hojo-jutso, mas uma forma de arte erótica baseada em algumas das técnicas com cordas, que eram amplamente divulgadas e ensinadas nas escolas do Japão Antigo, com propósitos totalmente diferentes.

SHIBARI E BDSM

Não é possível entender qual a ligação das amarrações e imobilizações com o BDSM, sem antes estudar o Shibari e o Bondage. Em um primeiro momento, pergunta-se por que o bondage faz parte da sigla e onde está a dor e humilhação, entre pessoas dispostas a nós complicados e um tempo muitas vezes longo. Mas, se bem analisarmos, o Shibari e o Bondage, é uma forma de controle absoluto sobre uma pessoa submissa ou um escravo.
Como já vimos acima, históricamente o Shibari, tem vertentes nos motivos sádicos dos japoneses, que dominavam a sociedade na época e se deleitavam ao verem mulheres nuas, amarradas, violadas e humilhadas.
Desta forma, o Shibari é uma técnica que leva em consideração o poder do Dono sobre seu submisso ou escravo, em conjunto com a sua habilidade na arte de imobilizar e o estudo que detém. Definitivamente, não é uma prática para qualquer um, necessita de muito conhecimento e empenho. De outro modo, exige da parte submissa, paciência, preparo e dedicação, uma vez que, dependendo da técnica usada, requer um longo período de tempo para a realização da imobilização.
Ao contrário da época em que o Shibari se originou, hoje ele é totalmente consensual e obedece as regras do SSC (sadio, seguro e consensual).

O PRAZER

A maior preocupação do Shibari é com a segurança, pois se mal executadas as amarrações podem provocar lesões graves aos nervos, vasos e tendões. As cordas, se possível devem ser de fibras naturais, com no mínimo seis milímetros de diâmetro, para evitar machucaduras e feitas de juta, cânhamo ou algodão, o comprimento geralmente é de sete metros. 
O praticante do shibari deve se preocupar, com o prazer que provocará à pessoa que está sendo imobilizada, através do toque das cordas em seu corpo. A análise do corpo por parte do imobilizador, os toques e  atenção, são de suma importância para a satisfação, uma vez que, este conhecimento é o que determina, a utilização dos pontos mais sensíveis do corpo do imobilizado, a lhe causarem excitação durante a prática, favorecendo-lhe o florescer do prazer.
As cordas devem se transformar numa extensão das mãos do imobilizador, possibilitando a este a sensibilidade necessária para a boa realização da imobilização, provendo o deleite das sensações, ao tocarem o corpo do imobilizado.
A alteração dos sentidos é notável, provocado pela tensão das cordas sobre o corpo e mais ainda se não há possibilidades de movimentos. O prazer é garantido através das contorções, atrito das cordas e da tensão muscular.
Finalmente, a contemplação final e a satisfação da realização plena, são capazes de causar uma sensação simbiótica de prazer entre os envolvidos.


Fonte: www.pensamentoindecente.com